sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

A volta de Dionísio


Já fazia mais de um ano que ele havia partido, toda a minha revolta e minha dor já tinham se assentado. Eu já não sofria mais.
No dia primeiro de dezembro, dia mundial de combate a AIDS, ele voltou a minha mente. Eu sabia que não era somente por causa do dia, hiavia algo mais. Passei o dia todo me debatendo, como um animal que apesar de não saber onde está, sabe que está preso de alguma forma. A noite caiu, fui pra minha aula de floral. Aprendi a essência Gorse, é para aqueles que acreditam que não vale a pena lutar por mais nada. Eu o vi em seus últimos dias na descrição do perfil negativo desse floral: a vida era pesada, um fardo, algo que não era mais possível suportar. Fui ao banheiro e chorei. “Se eu tivesse conhecido os florais antes...”, “ Se eu tivesse sido um pouco mais maduro...” Enxuguei as lagrimas e voltei a aula.
Passei dois meses com uma angustia dentro de mim, era como se eu tivesse uma mariposa se debatendo dentro do meu corpo desejando liberdade. Não sabia o porque dela estar ali, nem mesmo o que a prendia, afinal, “eu já havia me despido da grande maioria dos meus antigos padrões”. Não havia vela, não havia meditação, prece ou incenso que tirasse aquela mariposa de mim. Já estava me habituado a ela.

Comecei a tomar Star of bethlehem, o floral da limpeza da alma, foi como uma chuva depois de um dia quente. A mariposa, mesmo assim, não saia de dentro de mim, ao contrario, ela se debatia cada vez mais com esse floral. Viajei. Fui pra Bahia e a mariposa se acalmou com um ramo de arruda de uma baiana cheia de axé. Como era bom respirar novamente, sem toda aquele estardalhaço que as assas dela faziam.

Em uma manha chuvosa, em uma praia semideserta, com falésias atrás mim, o vento soprando sobre meu rosto, o mar agitado e as ondas molhando meus pés, foi que finalmente compreendi. Era preciso que eu libertasse para poder ser livre. Coloquei minha mão sobre meu peito e respirei fundo. Pela primeira vez, me senti livre de toda culpa. Star of bethlehem mostrou-me outra de suas fases, além de ser como a chuva, era como um bálsamo que ao mesmo que tempo que conforta, faz arder às feridas, para que eles se tornem vivas e possam finalmente cicatrizar-se por completo. Aquela mariposa saio de mim,voou livre, rumo a um local longe do meu controle. Longe dos meus braços, que querendo confortar e acolher, acabaram sufocando. Longe da minha carência que a aprisionava. Eu finalmente libertei parte do Filho de Dionísio que eu ainda guardava em mim por insegurança, por medo do novo. Senti uma energia terna me envolvendo, era como um abraço caloroso de quem se despede, vi essa energia indo para um local além da minha compreensão. Não consegui segurar a lagrima que escorreu e molhou meu sorriso.
O vento sussurrou em meu ouvido o que me pareceu a música mais apropriada para a situação, e eu cantei, embalado pela energia do momento:


Eu hoje tive um pesadelo e levantei atento, a tempo
Eu acordei com medo e procurei no escuro
Alguém com seu carinho e lembrei de um tempo
Porque o passado me traz uma lembrança
Do tempo que eu era criança
E o medo era motivo de choro
Desculpa pra um abraço ou um consolo
Hoje eu acordei com medo mas não chorei
Nem reclamei abrigo
Do escuro eu via um infinito sem presente
Passado ou futuro
Senti um abraço forte, já não era medo
Era uma coisa sua que ficou em mim, que não tem fim
De repente a gente vê que perdeu
Ou está perdendo alguma coisa
Morna e ingênua
Que vai ficando no caminho
Que é escuro e frio mas também bonito
Porque é iluminado
Pela beleza do que aconteceu
Há minutos atrás

2 comentários:

Anônimo disse...

É um post muito bonito. É muito bom se livrar de certos pesos. E a música final é de uma sensibilidade incrível. Não tenho muito a acrescentar. Só queria dizer que esse post me lembrou de um filme. No final a protagonista diz: "E me pus a pensar se uma recordação seria algo que se tem ou que se perdeu. Pela primeira vez, desde muito tempo, me senti em paz."
:) Beijos fraternos.

Lil disse...

Acho que seu melhor floral se chama... força de vontade. ;)

Beijos

www.opusmundi.wordpress.com